Sem poder falar e com curativo, a funcionária pública recebeu na boca um transplante de um músculo da coxa. Segundo médico, ela pode perder os movimentos do lábio inferior
A vítima passou por cirurgia de reconstrução labial e permanece internada (Foto: Reprodução)
A funcionária pública de 35 anos que teve mais da metade do lábio inferior arrancado durante uma briga, em Manaus, na madrugada da última sexta-feira (15), agradeceu em um vídeo o carinho que tem recebido. A jovem mostrou gratidão pelas mensagens de apoio direcionadas a ela nas redes sociais. O vídeo foi divulgado com exclusividade pela reportagem da TV A Crítica.
Sem poder falar e ainda com curativo na boca por conta da cirurgia de reconstrução labial, a mulher usou um pincel e uma pequena lousa branca para escrever uma mensagem de agradecimento. “Obrigado à todos que me enviaram mensagens de carinho! De extrema importância propagar o amor nesses tempos de tanto ódio! Não à violência!!!”, disse a funcionária pública.
A briga que terminou com o lábio da jovem arrancado aconteceu no último final de semana na capital. Tudo começou no estacionamento de um bar e restaurante na avenida Ephigênio Sales, na Zona Centro-Sul, e terminou em um posto de combustíveis na avenida André Araújo, Aleixo. A suspeita de arrancar o lábio da funcionária pública na briga foi identificada como Samara da Silva Pinheiro. Ela prestou depoimento na Polícia Civil, confessou o crime e segue sendo investigada.
Transplante e perda de movimentos
O cirurgião plástico e microcirugião Gustavo Cabrera, que realizou a cirurgia de reconstrução labial da jovem, afirmou que ela perdeu 80% do lábio inferior, sendo necessário realizar um transplante de um músculo da coxa. A paciente permanece internada em uma unidade de saúde de Manaus. As informações do médico cirurgião também foram repassadas pela TV A Crítica.
“Houve uma perda de 80% do lábio inferior. Isso nos obrigou a realizar um transplante de um músculo da coxa, chamado grácil. A gente transportou esse músculo com artérias e veias para manter o fluxo de sangue e o nervo fazer uma inervação deste músculo. O músculo foi fixado na área de perda de lábio por meio de um microscópio cirúrgico. Utilizamos a anastomose, para coabitação dessas estruturas dos músculos, com as estruturas face. Isso permite que a paciente tenha uma função desse músculo, o que permite ela se alimentar, sem perder líquidos ou alimentos pela boca”, explicou o médico.
O cirurgião plástico destaca que a funcionária pública permanece internada com o uso de antibióticos. Na próxima terça-feira (26), ela vai passar por outra cirurgia, a última etapa da reconstrução labial. “Vamos injetar pele, que é a etapa final da reconstrução. Após isso, provavelmente, cinco dias depois ela deve ter alta. Ela está evoluindo bem e sem dor”, conta.
O médico ressalta ainda que a inervação só mostrará resultados depois de dois meses e que o processo de cicatrização deve durar por volta de um ano. “Quanto a evolução dessa inervação só vamos ter resultados daqui a alguns meses, porque ela deve começar a mostrar função no lábio. Ao fim de um ano, vamos ter certeza se houve a retração da cicatriz, perda de volume ou se precisa diminuir o volume deste músculo. O risco de sequelas seria ela não ter movimento nesse músculo e perder a função dos lábios, na continência do alimento, mas como houve inervação provavelmente daqui uns dois meses deve ter já resposta essa ação”, completou.
Estacionamento, fofoca e briga
A publicitária Ana Rosa Cardoso, de 35 anos, que também se envolveu na briga no último final de semana conversou com a reportagem do Portal A Crítica e deu detalhes da ocorrência. De acordo com ela, ao sair do bar/restaurante juntamente com a funcionária pública e mais um amigo, em direção ao estacionamento, eles foram abordados por um homem desconhecido, que se aproximou e questionou o trio sobre uma suposta fofoca que estavam fazendo sobre Samara.
“Esse homem abordou meu amigo e perguntou sobre o que falávamos da mulher dele. Eu me meti e disse que não falamos nada, que nem conhecíamos ela e nem ele. Então ele disse que nós chamamos ela de p****, então de repente essa mulher saiu de um veículo e me empurrou, eu revidei o empurrão e ela me deu um tapa que eu caí”, explicou Ana Cardoso. “Eu falei pra ela que não podia bater e ficar por isso mesmo. Eu chamei a polícia, os seguranças vieram e apartaram a confusão, e então eles entraram no carro e foram embora”, concluiu.
Ana Rosa contou ainda que ela, a funcionária pública e o amigo seguiram para um posto de gasolina na avenida André Araújo. “A minha amiga disse que queria fumar então paramos no posto e, lá, a minha amiga viu essa moça de novo e foi tirar satisfação com ela, perguntar o porquê da agressão e quando eu vi elas já estavam brigando. Essa moça que nunca vi na vida pegou minha amiga pelos cabelos e a jogou no chão. Fui separar as duas e depois vi que havia muito sangue no rosto dela, quando chegamos no hospital que vimos a gravidade do ferimento. Como é que uma pessoa faz isso com a outra?”, disse ela.
Versão da autora
A autora da mordida se apresentou na polícia e prestou depoimento. De acordo com a delegada Alyne Lima, titular do 16º Distrito Integrado de Polícia (DIP), Samara confirmou a versão apresentada pela vítima e a amiga, dizendo que a confusão teria iniciado no estacionamento do bar/restaurante e estendido até o posto de gasolina. Segundo a delegada, a agressora contou que no estacionamento a vítima a xingou, o que motivou a discussão e posteriormente agressão.
“A agressora contou que teve xingamentos, agressões verbais por parte da vítima e que houve a discussão no estacionamento, que posteriormente eles se encontraram no posto e, segundo a agressora, a vítima avançou nela e a agressão iniciou. A Samara confessa que mordeu, mas alegou que não sabia que havia sido tão grave”, explicou a delegada, esclarecendo que a unidade policial tem o prazo de 30 dias para concluir o inquérito policial sobre o fato.
Segundo a titular do 16º DIP, Samara foi ouvida em termo de interrogatório e que possivelmente poderá ser indiciada por lesão corporal grave, podendo pegar de 1 a 5 anos de reclusão. A delegada revelou ainda que o crime pode ser mudado para lesão corporal gravíssima. “Tenho 30 dias para concluir e possivelmente ela será indiciada por lesão corporal grave, mas dependo do laudo do hospital porque pode haver uma mudança, dependendo do resultado, até para gravíssima”, esclareceu.