Conheça um pouco da história de um agricultor rural, que aos 71 anos, viralizou na internet cantando a música “Eu Vou Voltar Pro Meu Autaz”.
Quem é Otacílio Farias dos Anjos?
Otacílio Farias dos Anjos é um caboclo nato da Amazônia, aquele que na linguagem local é “Amazonense da Gema”, Nasceu em 07 de novembro de 1950 no Autaz Mirim, Lago do Miriti, cabeceira do São Paulo município de Careiro da Várzea/AM. Filho de Paulina Francisca Farias dos Anjos e Francisco Moreira dos Anjos sendo o primogênito de nove irmãos. Seus pais eram humildes agricultores em uma região economicamente muito pobre mas com uma fauna e flora exuberante no meio da floresta amazônica. O cultivo da mandioca para a produção de farinha era o sustentáculo da família.
A realidade das crianças dessa região é banhar-se nos rios, pescar e jogar bola, pois muito cedo, já acompanham os pais na roça e por isso, Otacílio somente aos nove anos de idade, teve a oportunidade de estudar em uma pequena escola (Escola Santa Rita de Cássia) que funcionava em um dos cômodos de uma casa na comunidade, chegando a cursar até a quarta série primária. Tido como um garoto inteligente, desde cedo alimentava o sonho em um dia ser jornalista.
A vida dura e a infância pobre tornam as crianças maduras precocemente e com Otacílio não foi diferente, já aos doze anos despertou para sua primeira paixão por Salvina, sua primeira namorada contra a vontade de sua mãe que de forma alguma aceitava que seu garoto já namorasse. Com doze anos, começou a trabalhar para se manter fazendo diária no corte da juta, carregando melancia ou balconista em um comércio flutuante, quando então surgiu o convite para vir à capital Manaus, onde trabalharia numa tradicional drogaria. A aventura foi frustrada e por ordem de seu pai ” Voltou para o Autaz”.
Pouco tempo depois de ter voltado pra Autaz, surge um novo convite de trabalho, desta vez feita pelo Vereador Alberto Fernandes, indo então para Autazes tomar conta de um comércio do político. Por ser um jovem responsável, honesto e trabalhador, Alberto Fernandes o levou novamente à capital, desta feita para trabalhar em um comércio no centro da cidade. Por não sentir progresso no trabalho deixou o emprego e aventurou como ambulante vendendo sequilhos e cachorro quente quando então decidiu “Voltar para o Autaz”.
Já com 16 anos, ajudando os pais na roça e na produção de farinha, continuava sua luta com a família pela sobrevivência em uma região tão pobre e sem oportunidades para os jovens, isso sem deixar de ser galanteador e namorador o que o levou a ter um atrito com a mãe ao levar uma namorada em casa contra a vontade dela, resultando que ela expulsou os dois de casa. Isso o levou de volta ao trabalho de lavar e cortar juta levando choque de poraquê e mordidas de sanguessugas agora na região do baixo Amazonas, município de Itacoatiara e redondezas. Essa nova aventura durou quatro anos, também frustrada, só lhe trazia aprendizados pois financeiramente os resultados não apareciam o que o levou a “Voltar pro Autaz”.
Foi recebido afetuosamente por uma mãe arrependida voltando a vida difícil de agricultor e aos 24 anos, foi pai pela primeira vez com o nascimento de Meirejane Ferreira Farias Pereira, que veio a falecer em 31 de janeiro de 2022, vítima de Covid 19, dois dias antes desta entrevista. Logo veio o primeiro namoro sério com uma bela moça que conheceu em uma festa no “Beiradão”, como assim são conhecidas as festas nas regiões ribeirinhas. Cristina Oliveira da Silva após oito meses de namoro tornou-se esposa de Otacílio e com ele teve três filhos sendo Fábio, Fabiano e Fabíola. Nessa época, Autaz vivia tempos difíceis, uma comunidade isolada e sem estradas, quando decidiu voltar para Manaus com a esposa e os filhos, sendo abrigado pelo sogro indo trabalhar como vigilante o que não lhe garantia ganho suficiente para seu sustento e da família, decidindo então deixar a esposa na capital e “Voltar para Autaz” indo a novamente trabalhar na roça. Logo juntou um dinheirinho virando “atravessador” comprando produtos na região e trazendo pra capital.
Essa vida de viajante e o comportamento galanteador ocasionou a separação após doze anos de casamento por decisão da esposa com a seguinte explicação: “Não te quero mais, vai embora e pronto”!. Cristina mulher guerreira, assumiu a criação dos filhos e Otacílio depois de algumas tentativas frustradas de reconciliação, partiu para uma nova união com Valcineide resultando numa numerosa família com Maria Fernanda, Flavia, Fabiana, Otacilio Jr, Francisco Paulo, Fabricio, Ana Paula e Aldineide relação essa, que já dura 19 anos.
Como nasceu o “Sr. Aldrin”?
Durante muitas de suas andanças, Otacílio conquistou grandes amizades. Embora não fosse um boêmio levava uma vida divertida com os amigos e, durante sua passagem por Itacoatiara onde já cantava músicas de Roberto Carlos, Zé Roberto e Reginaldo Rossi nos bares e boates em rodadas com os amigos, por ideia dos colegas, passou a usar o nome artístico de “ALDRIN” um dos astronautas da Apolo 11, os primeiros a pousarem na lua. O novo nome caiu no gosto de todos e passou a ser adotado oficialmente.
A partir dai, Aldrin passou a querer cantar músicas de sua própria autoria e sempre que reunia com seus amigos do time do Maringá, vinha o pedido para que cantasse algumas de suas composições, entre elas, o samba do Maringá. Uma música em ritmo de samba que cita o nome de todos da equipe. O gosto musical cada vez mais se fortalecia e, em suas andanças de motorzinho pela região do Autaz, visitando um aqui outro mais adiante, atendendo o pedido a que cantasse, mesmo sem nunca ter aprendido a tocar qualquer instrumento, nem mesmo o violão, o seu maior estímulo vinha dos aplausos dos amigos. Seu gosto musical é eclético, passando por música popular, samba e o famoso ritmo do “beiradão”, sendo que o mais curioso disso tudo, é que nenhuma de suas dezenas de músicas, nunca foram transcritas para o papel, permanecem todas armazenadas unicamente em sua memória. Ele faz questão de dizer que todas as suas canções, são frutos de pura inspiração, que nunca conseguiu fazer uma composição encomendada, seu grande público ao longo desses anos todos, foram os amigos da região do Autaz. Numa coisa ele é categórico em afirmar: ” Eu gosto é de cantar”!
A história do vídeo que viralizou
http://https://youtu.be/7maX4ol2xaE
Arlan é um conhecido muito considerado pela família do Sr. Aldrin, especialmente de Mércia (irmã), que costuma recebê-lo em sua casa para longas prosas. Em uma dessas visitas, os dois se encontraram e Arlan relatou estar com saudades de comer um peixe do Lago do Miriti. Depois desse encontro ocasional, Aldrin foi pescar, lembrou do amigo e levou uns peixes à casa de Mércia para que entregasse a Arlan. Logo depois, já na varanda de sua casa, Aldrin recebeu a visita de Arlan acompanhado de Jessé, dizendo que tinha ido ali agradecer os peixes e durante a conversa, já com Marcelinho também presente, Jessé pediu a Aldrin que cantasse uma música ao amigo visitante. Foi então que Aldrin cantou “Vou Voltar Pro Meu Autaz” uma música que fala da desilusão de um caboclo com a cidade grande e que resolve voltar às sua origens no interior. Cantou acompanhado pelos toque de Jessé na madeira, enquanto o amigo gravava o momento no celular. O papo rolou por mais algum tempo com os todos curtindo as canções de Aldrin e então, depois de muito agradecer pelos peixes, Alan e Jessé partiram.
Três dias depois desse encontro, Aldrin estava em sua casa e sua filha trouxe o recado do irmão Fábio que mora na capital, para que fizesse um vídeo de agradecimento, pois o vídeo que os amigos gravaram, tinha alcançado 35 mil visualizações nas redes sociais através dos portais e grupos de WhatsApp de Autazes, especialmente no Portal BDC Notícias. O reconhecimento nas ruas foi imediato, toda a comunidade comentava o sucesso do vídeo, um vizinho falou: “Somos privilegiados, moramos em frente a casa de nossa estrela”. O Vídeo foi postado no Portal do Urubui e rapidamente alcançou números expressivos chegando a quase 20 mil compartilhamentos e mais de 3.800.000 visualizações, sem que Aldrin tivesse conhecimento disso, devido a dificuldade dos serviços de internet na localidade. Quando ele tomou conhecimento da realidade dos números, ficou assustado com a repercussão e passou a receber convites pra fotos e entrevistas. Ele, vaidoso, antes de aceitar o convite viajou a Manaus para cuidar do sorriso e ai então aceitou participar dos ensaios fotográficos. Humilde como sempre, Aldrin tomou a iniciativa de em vídeo, fazer um agradecimento público a todos os amigos e portais, que de uma forma ou outra, contribuíra para divulgar esse vídeo que está fazendo tanto sucesso.
Aldrin vive um momento especial em sua vida por conta do sucesso de sua música, segundo sua próprias palavras é o renascimento de um homem aos 71 anos de idade, reacendeu nele a vontade de viver, hoje ele fala de futuro e acredita que alguém está abrindo uma estrada dando a ele a oportunidade em mostrar seu talento musical. A música “Eu vou Voltar Pro Meu Autaz” foi composta há mais de vinte anos e virou o carro chefe de suas composições que pretende apresentar o público em novas oportunidades. Com a ajuda dos filhos, suas músicas serão transcritas, registradas em cartório e, se possível, gravadas em estúdio. Artistas renomados do Amazonas já tiverem a oportunidade em conhecer a canção que tanto sucesso faz nas redes sociais, Sidney Rezende a achou sensacional e Nicolas Júnior além de tecer elogios, enviou a Aldrin um áudio orientando passo a passo o que deve ser feito para lhe garantir os direitos autorais de suas canções e, quem sabe brevemente, poder auferir ganhos através de seu talento. A alegria é tanta que agora o galanteador e famoso cantor do Lago do Miriti, criou perfil nas redes sociais para mostrar seu trabalho e interagir com os fãs.
Entrevista ao CANAL DIBOA
Antes de finalizar nossa conversa, Aldrin fez questão de homenagear sua filha Meirejane, a quem sentia orgulho e admiração, mesmo não tendo sido um pai tão presente.
Como não poderia deixar de ser, perguntei-lhe o que faria no dia seguinte e instantaneamente com um largo sorriso me respondeu:
” VOU VOLTAR PRO MEU AUTAZ”!
Por: Bosco Cordeiro