Figueiredo não é mais a ‘terra do cupuaçu’ por falta de investimento

 

Em produção, o município fica atrás de Rio Preto da Eva e Itacoatiara

Além de problemas de estrutura, políticas públicas e barreiras sanitárias, há ainda as pragas que atingem a lavoura, fazendo alguns produtores desistir da fruta | Foto: Arquivo/ Em Tempo

Manaus – O município de Presidente Figueiredo (localizado a 130 quilômetros de Manaus) é conhecido não apenas como a “terra das cachoeiras”, devido à diversidade em quedas d’água, mas também como a “terra do cupuaçu”, pela produção que a cidade comporta. O município produziu, em 2019, 1 milhão 584 mil frutos. Já em 2020, esse número foi menor, de 1 milhão 440 mil, com 144 mil frutos a menos em comparação ao ano anterior, segundo dados do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas (Idam).

Apesar da queda na produção do cupuaçu, gerada pelo impacto da pandemia, os 144 mil frutos a menos não trouxeram significativa preocupação aos produtores, e sim, o surgimento de pragas e a retração nas vendas.

A produtora Antônia Nascimento, 40, teve prejuízo em sua safra. A pequena agricultora chegou a investir nos cupuaçuzeiros e fez um pequeno plantio em seu sítio, mas a praga vassoura de bruxa acabou com tudo, levando-a a procurar por outras frutas. “A gente nem cultiva cupuaçu por causa dessa vassoura que dá. Dá um fruto bonito, mas quando quebra não presta”, lamenta.

  Já a fazenda do empresário Ícaro Gaspar, 34, por ter um investimento maior, teve um resultado diferente. Com doze funcionários que cuidam de nove hectares de plantação da espécie BRS Carimbó, uma árvore enxertada (criada no estado do Pará pela Embrapa e mais resistente a pragas) a produção de cupuaçu produziu cinco vezes mais frutos do que o normal.  

“Nós fazemos sempre uma auditoria na plantação e qualquer resquício de vassoura de bruxa é tratada de maneira correta, antes que se alastre”, ressalta o empresário, cuja última safra, que ocorre entre outubro e junho, foi de 70 toneladas de polpa, vendida a R$ 8,00 o quilo.

 

O cupuaçuzeiro leva, em média, oito anos para começar a produzir
O cupuaçuzeiro leva, em média, oito anos para começar a produzir | Foto: Divulgação/Embrapa

  Mesmo com uma forte produção, Gaspar sofreu uma queda de 35% nas vendas, em decorrência da Covid-19 e das medidas restritivas na região. O empresário fornece os frutos, em sua maioria, para Manaus, mas também em São Paulo (São Paulo) e Boa Vista (Roraima) que, antes da capital amazonense, costumava ser a maior consumidora do produto.  

Polpa para turistas

  O agricultor Antônio Albuquerque, 23, tem uma pequena produção em um sítio de Presidente Figueiredo. Apesar de não ser a renda principal, as cerca de 20 árvores são um grande complemento para as finanças da família. Na época de safra, Albuquerque consegue encher um freezer de duas tampas com a polpa in natura, vendida para turistas e restaurantes regionais, a R$ 5,00 o quilo. A família ainda usa a fruta na confecção de balas de cupuaçu e consegue vender em média de 300 unidades por dia, custando R$ 2,00 cada.  

Os produtores locais também costumavam vender para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), mas, com a mudança de legislação sobre polpas para merendas, essas pessoas passaram a ter dificuldades para se adequar às normas e deixaram de ter o programa como cliente.

Má administração municipal

  Segundo o Secretário de Comunidades de Presidente Figueiredo, Oséias Martins, a cidade e o Amazonas têm perdido o posto nessa produção, ficando atrás de estados como a Bahia, que nem ao menos abriga a Floresta Amazônia, bioma de origem do fruto. De acordo com o secretário, além de problemas de estrutura, políticas públicas e barreiras sanitárias do Ministério da Agricultura, há ainda as pragas que atingem a lavoura, fazendo alguns produtores desistir da fruta.  

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que trabalha diretamente com os produtores do município, fez um plantio de 100 novas árvores, que levam em média de oito anos para começarem a produzir fruto.

Perdas

De acordo Martins, as feiras fechadas contribuíram para a perda dos frutos colhidos na safra da época, uma vez que os produtores não tinham quem comprasse.“ Muitos produtores acabaram cortando a fruta e armazenando [em refrigeradores], mas com o preço da energia muito alta eles não conseguiram guardar por muito tempo”, ressalta.

O máximo de período que um freezer consegue armazenar são 200 quilos de polpa por seis meses e, com o produto custando em média de R$ 10, o produtor estava pagando para trabalhar. “Se você não colocar no mercado bem rápido, você não consegue manter, já que a gente não tem no município nenhuma estrutura de câmara frigorífica maior para poder adequar”, esclarece o secretário.

A fazenda de Gaspar, por exemplo, não teve sua produção afetada, mas as vendas sim. “Acabamos tendo que vender a um preço muito barato para intermediadores estocarem e venderem depois a um preço melhor, porque não temos capacidade de ocupação. Temos uma câmara de cinco toneladas de limite de armazenagem, que não foi suficiente”, contou.

Festa do Cupuaçu

Outra interferência da pandemia foi sobre a Festa do Cupuaçu. Realizada desde 1991, o evento funciona como feira de negócios e celebração da cultura local, fomentando a economia nos 15 dias antes e pós-festa.

  Para a Secretária de Cultura do município, Ieda Nicácio, a falta da festa, cuja última edição ocorreu em 2019 e ainda não tem previsão de volta, acarreta em uma perda econômica, afetando não apenas quem faz negócios no local, mas também o setor de turismo, comércio e cultura.  

Setor primário

Segundo o economista Altamir Barroso, o setor primário no estado tem baixa produção por falta de políticas de longo prazo, planejamento estratégicos e de tecnologias para auxiliar na complexidade do bioma da Amazônia.

O economista salienta que a falta de uma indústria de beneficiamento para diversificar os produtos do cupuaçu é outro problema encontrado.

Apesar de Figueiredo fazer a Festa do Cupuaçu, Rio Preto da Eva e Itacoatiara são os maiores produtores do fruto. Figueiredo ocupa o terceiro lugar, podendo ser ainda o primeiro se houver um empenho maior entre produtores, prefeitura e os órgãos técnicos de apoio

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