Degradação ambiental transforma igarapés de Manaus em esgotos a céu aberto

 
25/10/2025 às 07:40.

Atualizado em 25/10/2025 às 07:40

 

Lixo acumulado em igarapés da capital compromete a qualidade da água e ameaça a saúde da população (Foto: Paulo Bindá)

A degradação dos igarapés de Manaus alcançou um nível alarmante, sendo considerada pela doutora e pesquisadora do ILMD/Fiocruz Amazônia, Luciete Almeida Silva, um problema maior do que se percebe publicamente. A especialista alerta que a combinação entre despejo de resíduos, esgoto e ocupações irregulares tem transformado esses corpos d’água em verdadeiros esgotos a céu aberto, com consequências graves para o meio ambiente, a sociedade e a saúde pública.

Segundo Luciete, o principal agente de degradação é o descarte inadequado de lixo pela população e os problemas de saneamento básico.

“O igarapé recebe de tudo: lixo, efluentes. Em épocas de chuva, ele carrega esse material orgânico, essa poluição, esses micro-organismos patogênicos, afetando a qualidade da água, o cheiro e causando a proliferação de vetores”, explica.

A pesquisadora destaca que a poluição, somada à ocupação desordenada, tem um efeito devastador na biodiversidade e nas características naturais dos rios.

“O igarapé urbano não tem mais sua característica natural. Ele se torna um ambiente homogêneo, poluído, com baixa diversidade de espécies e predomínio daquelas mais tolerantes à poluição”, acrescenta.

A pesquisadora revela que o impacto chega até mesmo ao Rio Negro. “A gente tá perdendo, de certa forma, essa acidez do Rio Negro, porque ele tá recebendo toda a distribuição dos esgotos, dos poluentes, fazendo com que haja um aumento do pH.”, disse a doutora, que ressaltou que os riscos à saúde são diretos.

Instalação de ecobarreiras pela prefeitura de Manaus em alguns igarapés retém resíduos sólidos descartados pela população

Instalação de ecobarreiras pela prefeitura de Manaus em alguns igarapés retém resíduos sólidos descartados pela população

 “Essa poluição, essa concentração de lixo e de esgoto nos igarapés, gera a proliferação de ratos, o que pode causar doenças como a leptospirose”, adverte. Além disso, a contaminação da água representa um perigo de doenças de veiculação hídrica e a contaminação via consumo de peixes.

Falta de conscientização

A pesquisadora critica a falta de conscientização e a ocupação irregular das margens. “A população não tem, ainda, essa consciência ambiental e ela sofre diretamente as consequências desse lixo, desse entulho que ela joga nas beiras dos igarapés. Isso reduz a vazão, causa o alagamento e a inundação”, pontua.

Para reverter o cenário, Silva defende medidas rigorosas e de longo prazo. “É preciso ter a limpeza, a drenagem periódica dos igarapés. É preciso fazer um monitoramento da qualidade da água e ter a ecobarreira para reter esses resíduos sólidos”, sugere. No entanto, ela enfatiza que a mudança só ocorrerá com a punição e uma nova legislação. “Enquanto não atingir o bolso da população, não vai ter efeito a conscientização e a limpeza”, conclui.

Retirada de lixo

Em setembro,   a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) eliminou 187 pontos de descarte irregular, resultando na retirada de mais de 3,7 mil toneladas de resíduos. A zona Leste concentra 30% dos casos, seguida pelas zonas Norte e Sul. A Centro-Sul tem o menor índice, mas todas as regiões da cidade registraram pontos críticos — reforçando o desafio do descarte correto.

Segundo a Prefeitura de Manaus, desde o início do ano, mais de 2,7 mil toneladas de lixo foram retiradas por ecobarreiras. Desde a implantação do sistema, 700 toneladas de resíduos foram retidas, evitando que chegassem aos rios da capital.

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