No coração da selva: a noite em que a aventura virou superação na Balbina/Morena Trilha Cross

 

Em Presidente Figueiredo, o berço do turismo de natureza no Amazonas, a selva mostrou toda sua força e beleza durante a Balbina/Morena Trilha Cross, uma expedição de 64 quilômetros que uniu adrenalina, companheirismo e superação.
Entre as dezenas de trilheiros que se lançaram ao desafio, duas equipes de UTV viveram uma das experiências mais intensas da história das trilhas do município — uma verdadeira prova de resistência, coragem e união com a natureza.

A aventura começou com entusiasmo na pista de pouso do distrito de Balbina. O destino: o PDS Morena, atravessando corredeiras, paredões, cavernas e lances de floresta fechada. O que parecia ser apenas uma trilha difícil se transformou em uma jornada de superação quando, por volta do quilômetro 28, a natureza impôs seu maior obstáculo: uma ladeira íngreme de 180 metros, encharcada e escorregadia, onde o barro e a chuva transformaram o terreno em um verdadeiro campo de batalha.

“As motos e quadriciclos subiram, mas os UTVs ficaram. Um deles chegou a capotar, e passamos horas tentando destombar e vencer o trecho. Amarrávamos o guincho em uma árvore, puxávamos um pouco, trocávamos de posição… foi uma operação de paciência e persistência”, contou Paulo Júnior, um dos trilheiros experientes que estava no comando de um dos veículos.

Mesmo diante das dificuldades, nenhum participante esteve em risco. A equipe estava preparada — com alimentos, ferramentas, redes e experiência suficiente para enfrentar o imprevisto. À medida que a noite avançava, a selva se transformava em abrigo. Por volta da uma da manhã, já exaustos e com o guincho inutilizado, os pilotos decidiram montar acampamento.

“A gente sabia que a trilha podia surpreender. Montamos as redes, acendemos a fogueira e descansamos. Estávamos seguros, tranquilos. Foi um momento de respeito pela natureza e de cumplicidade entre todos”, relembra Paulo.

A notícia da demora chegou à coordenação do evento, e imediatamente a Defesa Civil, Mateiros e o próprio prefeito Fernando Vieira mobilizaram uma operação de apoio. Às duas da manhã, equipes partiram de dois pontos — Balbina e PDS Morena — levando alimentação e reforço.

“O prefeito entrou na trilha com os Guardas Civis e mateiros da comunidade. O carro dele chegou a quebrar no caminho, mas ele fez questão de acompanhar. Isso mostra o comprometimento e o espírito de união que move o evento”, relatou Paulo.

O reencontro entre o grupo e as equipes de apoio ocorreu sob chuva, com emoção e alívio. Às cinco da manhã, após o amanhecer na mata, os UTVs voltaram a se mover. A chegada ao PDS Morena, às 11 horas do domingo, foi marcada por aplausos, abraços e a sensação de vitória.

“Chegar foi emocionante. Depois de tudo, ver o pessoal esperando, o prefeito lá, o almoço pronto, foi uma explosão de alegria. E quando a gente mergulhou na corredeira do Boto, parecia que a natureza nos recebia de volta, lavando o cansaço e renovando a alma”, descreveu.

A Balbina/Morena Trilha Cross foi mais do que um desafio mecânico — foi um teste de espírito e de união. A selva amazônica colocou à prova máquinas, corpos e mentes, mas ninguém ficou para trás. Com segurança, solidariedade e preparo, os trilheiros mostraram que a verdadeira vitória está em seguir juntos, mesmo quando o caminho desaparece na lama.

“Foi uma das aventuras mais incríveis que já vivi. E o melhor de tudo é saber que, mesmo diante das dificuldades, todos estávamos seguros e amparados. É por isso que amamos trilha: é emoção, mas é também responsabilidade e companheirismo”, concluiu Paulo Júnior.

Entre lama, chuva e gargalhadas, a Balbina/Morena Trilha Cross escreveu um novo capítulo na história do turismo de aventura no Amazonas — uma história de coragem, respeito à natureza e a certeza de que, na Amazônia, cada desafio é também uma celebração da vida.

Redação: Portal do Urubui

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