Família acusa maternidade Eleíta Almeida de negligência após complicações em parto
Recebemos denúncias de familiares de Emilayne de Lima Leal, que houve negligência no atendimento a paciente, durante um parto ocorrido na Maternidade Eleíta Almeida em Presidente Figueiredo. Buscamos ouvir o relato dos familiares e da direção do hospital, para esclarecimento do que de fato ocorreu.
Acompanhe:
Mãe relata momentos de desespero
O caso de Emilayne de Lima Leal, que passou por complicações após um parto cesariano na Maternidade Eleíta Almeida, em Presidente Figueiredo, tem gerado grande comoção, principalmente devido ao relato da mãe, Adriana Castro de Lima, que detalha o que considera uma grave negligência médica. A paciente, que teve complicações durante o parto e acabou perdendo o útero, foi transferida para a UTI da Maternidade Balbina Mestrinho, em Manaus, onde permanece internada. Adriana compartilha sua angústia diante da falta de informações claras e do atendimento prestado à filha.
Relato de Adriana Castro de Lima
Adriana explica que não estava presente no momento do parto, mas recebeu notícias do ocorrido por uma pastora que acompanhava Emilayne e seu esposo. Segundo ela, às 21h, Emilayne deu à luz, e a pastora informou que mãe e bebê estavam bem. No entanto, minutos depois, a situação mudou drasticamente. “Ela [a pastora] me ligou de novo e disse que levaram a minha filha para o centro cirúrgico de novo, mas não sabia explicar o que tinha acontecido. Perguntei se ela estava passando mal e a resposta foi sim, mas ninguém dava informações.”
Preocupada, Adriana relatou que tentou entender o motivo da nova cirurgia. “O médico informou depois que ela estava com uma pequena hemorragia e precisaram levá-la de volta. Ao reabrir, o médico percebeu que o útero estava comprometido, muito mole, e que não voltaria ao normal. Por isso, ele decidiu remover o útero da minha filha.”
A situação piorou quando Adriana soube que a cirurgia demorou muito mais do que o esperado. “Ela entrou para o centro cirúrgico às 10h da noite e, até 1h da manhã, ainda não tinha saído. Foi quando reuni algumas pessoas da igreja e consegui dinheiro para ir até Presidente Figueiredo. Quando cheguei, minha filha já estava sendo transferida para Manaus”, relata.
Adriana decidiu acompanhar a filha na ambulância. “Quando chegamos a Manaus, pela manhã, os médicos me disseram que ela estava estável e tinham contido o sangramento. Vim para casa, já que não podia ficar na UTI, e voltei no horário de visita, às 11h. Minha filha falou comigo, mas logo a enfermeira me informou que iriam levá-la de volta ao centro cirúrgico para entender o motivo da nova hemorragia.”
Na terceira cirurgia, Emilayne foi reaberta, e os médicos tentaram novamente conter o sangramento. Adriana descreveu seu desespero ao ver a filha naquele estado. “Quando fui visitá-la, minha filha estava irreconhecível, completamente inchada. Não podia acreditar no que estava acontecendo.”
Erros no atendimento e negligência
Adriana afirma que, ao conversar com o médico responsável em Manaus, foi informada sobre uma possível falha no procedimento realizado em Presidente Figueiredo. “O médico me disse que, durante a primeira cirurgia, o obstetra cortou as artérias, mas não cauterizou como deveria, o que causou dois grandes coágulos de sangue, agravando o sangramento. Essa falha foi o que levou à nova hemorragia.”
Além das falhas no procedimento, Adriana também acusa a unidade de saúde de negligência no atendimento inicial. Segundo ela, na primeira gravidez de Emilayne, houve um episódio semelhante, em que a filha foi mantida no hospital de Presidente Figueiredo por mais de 10 horas após a bolsa romper. “Eles só transferiram minha filha para Manaus depois que a bolsa estourou. Quando chegaram lá, o médico disse que se o bebê tivesse engolido fezes, poderia ter morrido. Dessa vez, não fiquei calada”, desabafa.
Adriana também criticou a falta de assistência durante a transferência para Manaus. “A ambulância não foi enviada pela UBS da nossa comunidade. Tivemos que pagar R$ 300 para que eu pudesse chegar a Presidente Figueiredo e acompanhar minha filha”, contou.
Estado atual da paciente
Segundo Adriana, após dias de grande preocupação e várias cirurgias, Emilayne está mostrando sinais de melhora. “Graças a Deus, a minha filha já está melhor, está estável e reagindo bem aos medicamentos. Ela conseguiu se alimentar e está se recuperando aos poucos”, explicou. No entanto, a paciente permanece na UTI sob cuidados médicos intensivos, enquanto a família aguarda ansiosamente pela sua recuperação completa e afirma não ter recebido nenhuma assistência do serviço social da maternidade Eleíta Almeida, na capital.
Respeito pela dor da família
Adriana, emocionada, pediu que as pessoas parem de especular sobre o caso nas redes sociais. “Muita gente está dizendo que é fake news, que não é verdade, mas eles não estão vivendo o que eu estou vivendo. Ninguém sabe a dor de uma mãe ao ver sua filha passar por isso”, disse ela. “Essa foi a segunda vez que minha filha sofreu negligência nesse hospital. Na primeira, eu fiquei calada, mas agora não vou me silenciar.”
Adriana encerrou pedindo respeito e solidariedade diante da situação difícil pela qual sua filha está passando.
Resposta da Maternidade Eleíta Almeida
Diante das acusações de negligência médica, o diretor da Maternidade Eleíta Almeida, Dr. Helber Câmara, se pronunciou sobre o ocorrido com Emilayne de Lima Leal. Em sua declaração, ele defendeu a equipe médica e explicou as circunstâncias do atendimento prestado à paciente.
Dr. Câmara iniciou esclarecendo que Emilayne deu entrada na maternidade para a realização de um parto cesariano. Segundo ele, o procedimento foi conduzido conforme os protocolos médicos padrão. “A paciente foi admitida na nossa unidade, passou pelos cuidados habituais e foi levada ao centro cirúrgico, onde o parto cesariano foi realizado com sucesso”, afirmou. Após o parto, a paciente foi encaminhada ao alojamento conjunto, onde o bebê recebeu os cuidados necessários do pediatra.
No entanto, Dr. Helber detalhou que, após retornar ao leito, Emilayne começou a apresentar complicações. “Ela evoluiu para um quadro de hemorragia, e o médico responsável pelo procedimento decidiu levá-la de volta ao centro cirúrgico para investigar a causa e tentar conter o sangramento. Durante essa segunda cirurgia, o médico identificou uma intercorrência no útero da paciente, que estava comprometido. Diante disso, foi necessário realizar uma histerectomia (remoção do útero) para controlar a hemorragia.”
O diretor destacou que o procedimento foi realizado dentro dos padrões médicos e que decisões como essa são tomadas com base em critérios técnicos. “Quero deixar claro que essa é uma conduta médica, e o cirurgião agiu de acordo com as circunstâncias que encontrou no momento. Infelizmente, em casos de complicações obstétricas, como hemorragias severas, a remoção do útero pode ser necessária para salvar a vida da paciente.”
Dr. Helber também abordou a transferência de Emilayne para a capital, explicando que a Maternidade Eleíta Almeida não é uma unidade de alto risco. “Como não conseguimos estabilizar a paciente, a transferimos para uma unidade de maior complexidade em Manaus. A Maternidade Balbina Mestrinho é especializada em atendimentos de alta complexidade e tem UTI equipada para tratar pacientes com intercorrências graves, como no caso da Emilayne.”
Ainda segundo o diretor, ao chegar em Manaus, a paciente recebeu sangue e passou por novos procedimentos cirúrgicos. “Ela foi admitida na UTI, passou por uma estabilização, e a informação que temos é que, após isso, ela já estava andando e respondendo bem aos tratamentos”, relatou. O acompanhamento de Emilayne em Manaus está sendo feito pela equipe social da maternidade, que tem mantido contato com a família e monitorado sua recuperação.
Dr. Helber finalizou sua fala ressaltando que complicações obstétricas, como a que ocorreu com Emilayne, são possíveis em qualquer maternidade e que fazem parte do risco médico. “Em média, 10% dos partos podem evoluir para intercorrências graves que exigem a transferência para uma UTI ou a realização de procedimentos mais invasivos, como a histerectomia. Nossa unidade não é especializada em casos de alto risco, e, por isso, sempre que necessário, fazemos as transferências para a capital.”
O diretor reiterou que todas as medidas cabíveis foram tomadas para garantir o melhor cuidado à paciente e que a equipe seguiu os protocolos estabelecidos. A criança, que permanece em Presidente Figueiredo, está recebendo cuidados da equipe pediátrica e passa bem. Ela está sendo acompanhada por uma tia enquanto a mãe permanece internada na capital.
O médico responsável pelo parto, Dr. Henry Ramires, também seguiu os protocolos médicos, segundo a direção da unidade. “Trata-se de uma intercorrência médica, e a paciente foi encaminhada para a capital para cuidados de alta complexidade”, concluiu Dr. Camara.
Com isso, Dr. Helber buscou afastar as alegações de negligência, ressaltando que a evolução para hemorragias graves e a necessidade de intervenções cirúrgicas adicionais são situações que podem acontecer em qualquer procedimento obstétrico.
Por: Bosco Cordeiro