O homem que fez da madeira sua vida: o fascínio de Clodoaldo pela marcenaria em Presidente Figueiredo

 “Mais do que móveis, Clodoaldo também transformou madeira em arte”

Presidente Figueiredo (AM) – O cheiro da madeira cortada, o barulho das ferramentas e a possibilidade de transformar simples tábuas em móveis cheios de significado. Desde menino, Clodoaldo de Sousa Evangelista, 47 anos, descobriu nesse universo um fascínio que atravessou décadas e moldou sua trajetória de vida.

Nascido em 1977, em Coari, interior do Amazonas, Clodoaldo cresceu em meio ao trabalho do pai, agricultor e também carpinteiro. Aos nove anos, mudou-se com a família para Manaus e, pouco tempo depois, para Presidente Figueiredo, onde a madeira passou a ditar seu destino.

“Meu pai era produtor rural, mas também carpinteiro. Eu ficava observando ele, gostava de fazer barquinhos, carrinhos. Quando cheguei perto de uma marcenaria pela primeira vez, me encantei. Foi paixão imediata”, relembra.

Primeiros passos

Aos 12 anos, Clodoaldo começou a trabalhar em uma oficina, onde era responsável apenas por tarefas simples, como varrer e juntar o pó da madeira. Mas a curiosidade falou mais alto: um dia, aproveitou a ausência do patrão e produziu sua primeira mesa. “Ele brigou comigo porque eu não podia mexer, mas acabou reconhecendo que a peça tinha ficado boa”, conta.

O talento precoce chamou atenção. Logo, Clodoaldo foi contratado por outra marcenaria da cidade, já participando da produção de móveis. Com apenas 14 anos, assumiu a gerência do espaço, responsável por orçamentos, compra de material e coordenação de funcionários.

Da oficina ao empreendedorismo

Ao longo da juventude, Clodoaldo acumulou experiência e sonhos. Chegou a alugar sua própria oficina e, após períodos de dificuldade, construiu o próprio galpão, dando início à sua marcenaria independente. Nos anos 2000, participou da criação do Polo Moveleiro de Presidente Figueiredo, que reuniu empresas locais e organizou o setor no município.

Mas foi um contrato com a Natura que marcou sua carreira. Produziu mesas, armários e peças artesanais para o Núcleo de Inovação Natura Amazonas, atingindo faturamento expressivo e reconhecimento nacional. “Foi a maior realização da minha vida profissional. Vi minhas mesas saírem daqui para o Brasil e até para fora do país”, afirma orgulhoso.

Arte, resistência e novos projetos

Mais do que móveis, Clodoaldo também transformou madeira em arte. Criou peças macheteadas, como esferas decorativas, algumas delas levadas até a Dinamarca. Caixinhas produzidas para a Natura se espalharam por diferentes estados brasileiros e simbolizaram o potencial do artesanato amazonense.

O universo alcançado pelo trabalho de Clodoaldo extrapolou as fronteiras da Amazônia. Suas peças carregam não apenas a beleza da madeira, mas também o nome de Presidente Figueiredo, projetando o município no cenário nacional e internacional. Cada móvel e cada detalhe artesanal revelam a criatividade e a força do talento local, mostrando ao mundo que, do coração da floresta, nascem obras capazes de unir tradição, inovação e identidade.

Mesmo enfrentando dificuldades – como a morte dos pais, a pandemia e uma separação –, o moveleiro manteve o sonho vivo. Hoje, com a empresa Acácia Móveis, ele investe em protótipos de móveis de alto valor agregado, como portas pivotantes e mesas especiais, de olho no mercado nacional e internacional.

Mais do que empreender, Clodoaldo sonha em devolver à comunidade o que aprendeu. Quer montar uma escola de marcenaria para jovens de baixa renda de Presidente Figueiredo. “Se eu conseguir ensinar dois ou três a trabalhar com madeira, já vou ter cumprido meu papel”, diz.

Uma vida moldada pelo sonho

Clodoaldo resume sua trajetória como uma caminhada de luta, resiliência e conquistas. “Eu realizei meu sonho sem herança, sem financiamento, apenas trabalhando. A madeira me deu tudo. E meu recado para os jovens é: não desistam dos seus sonhos. A persistência sempre traz recompensa”, conclui.

Redação: Portal do Urubui

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