Em alta, tatuagem no rosto divide opinião de profissionais e clientes

Corpos tatuados não causam mais tanto choque. Mesmo com uma discriminação histórica e a ideia que arte na pele é reservada apenas para criminosos, os mais jovens têm aderido à prática e ajudado a “normalizar” as famosas tattoos. Apesar da diminuição do preconceito, uma área ainda divide opiniões: o rosto.

O local, comumente tatuado por rappers, tem virado moda com mais artistas famosos abraçando a tendência. Os novatos Post Malone e Kehlani possuem algumas, Kat Von D exibe as suas há anos e até Justin Bieber aderiu a uma pequena cruz perto do olho.

A maquiadora Nay Fogaça, 29 anos, fez a primeira tattoo aos 15 anos e estima ter 60% do corpo coberto com arte. No rosto, a mais aparente fica no queixo e outras duas ocupam a lateral direita. “Entre meus amigos, a gente brinca que, quando você tatua a cara, acaba rasgando sua identidade e virando outra pessoa. Existem consequências, principalmente no Brasil”, afirma.

A escolha do rosto como local para tatuagem foi natural, pois Nay queria complementar a aparência. “A maioria das minhas clientes curte meu visual, mas algumas falam que eu não devia ter feito isso, porque acham meu rosto muito bonito”. A mãe da maquiadora ficou chocada no começo, mas já se acostumou.

Arquivo pessoal

 

“Até hoje alguns familiares não gostam, ficam me perguntando como vou trabalhar e dizem que não fui racional ao fazer”, diz. Entre os amigos, Nay perdeu o contato com alguns que julgavam seu estilo. Segundo a maquiadora, quem mais gosta das tatuagens em seu rosto são as crianças. “Elas adoram, comparam à tribo da Moana”, ri.

Nay diz ter chamado mais atenção desde que fez as tattoos no rosto. “Existe uma linha tênue entre assédio, fetiche e admiração, todo mundo olha e pergunta, especialmente no Uber. Tento ser sempre muito educada”, conta. 

Para o tatuador e músico MC Ahoto, 28, o preconceito veio de casa. Ele tem 48 tatuagens, três delas no rosto e uma na cabeça. “Foi bem difícil e me falaram que era loucura, coisa do diabo e que eu não ia conseguir trabalhar”, lembra.

Arquivo pessoal

“Tatuagens hoje em dia são bem-aceitas, até para quem é concursado, policial ou bombeiro. Mas a tattoo no rosto não é bem-vista em empregos mais tradicionais”, fala. O tatuador ressalta que essa realidade está mudando. “Atualmente, é mais difícil achar alguém que não tenha tattoo, enquanto na geração passada era o oposto”, aponta.

No estúdio
A tendência da arte no rosto também é polêmica em estúdios de tatuagem. Alguns profissionais não realizam a modificação corporal, outros possuem critérios para topar o projeto. “Depende da ideia e da quantidade de tattoos que a pessoa já fez. Se ela não tem pelo menos um braço fechado ou algo assim, não faço”, confirma o tatuador Ramon Santamaria

Um dos motivos pelo qual Ramon se recusa a tatuar qualquer cliente no rosto tem a ver com o preconceito da sociedade. “Tattoo na cara é um nível acima, principalmente quando comecei, há 15 anos, era bem difícil, hoje em dia está mais na moda”.

A tatuadora Lays Alencar fez um projeto no rosto de um cliente e está aberta a novos. “Sou uma grande admiradora da modificação corporal, então não aposto contra”, afirma. Antes da sessão, ela conversa com os interessados sobre a necessidade de cuidados com a tattoo, principalmente em áreas muito expostos ao sol, como a face. “É importante passar filtro solar todo dia”, reforça.

Para marcar o rosto, Lays acredita que o cliente precisa ter maturidade e certeza. “Recomendaria tatuar esse local só após os 25 anos”, comenta. “Já vi gente se arrependendo, mas acredito que a palavra final é sempre da pessoa. Oriento sempre e falo dos riscos. Se ela quiser mesmo assim, então tatuo”.

Fonte: https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/comportamento/em-alta-tatuagem-no-rosto-divide-opiniao-de-profissionais-e-clientes

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