Diretor de ‘Bandidos na TV’ não descarta continuação da série após sucesso

 

Em entrevista, diretor britânico Daniel Bogado comemorou o sucesso da produção e considera guerra entre facções e Caso Adail “assuntos fascinantes” para serem contados

A série documental “Bandidos na TV” estreou na última sexta-feira (4) na Netflix e é o assunto mais comentado no Amazonas. A trama conta a história do ex-deputado Wallace Souza, apontado como o chefe de uma organização criminosa que matava traficantes em troca de audiência para o programa “Canal Livre”.

Em entrevista, o diretor britânico Daniel Bogado não descarta uma continuação da história e considera a guerra de facções e o Caso Adail “assuntos fascinantes” para serem contados. Leia a entrevista na íntegra com o diretor:

Sabemos que a produção da série teve a duração de 17 meses. Como ficou dividida a produção durante esse período?

A produção consistiria em uma equipe viajando para Manaus, trabalhando em conjunto com uma equipe local, para realizar algumas entrevistas, e depois retornaríamos a Londres para editar o material. Com base nessa edição inicial, retornamos a Manaus para obter mais material. Nós fizemos isso várias vezes. No meio da produção, em junho de 2018, viajamos todos ao Rio de Janeiro por duas semanas para filmar as visualizações dramáticas.

Você é envolvido em outras produções, inclusive na Netflix. Quais você destaca?

Eu trabalhei em um documentário chamado “Trump: The American Dream”, que conta a história sobre a vida do presidente americano de uma forma que foi muito original e interessante. Eu fiz o último episódio, sobre política. Esse foi meu primeiro projeto com a Netflix. Antes disso, trabalhei em canais como BBC, Channel 4 e PBS.

Como você observa a repercussão de Bandidos na TV? Aqui no Amazonas só se fala nisso… Você esperava esse sucesso?

Fui cativado pela história desde quando a ouvi pela primeira vez. E quanto mais eu pesquisava, mais fascinado eu ficava. Então, claro, eu queria que fosse um sucesso. Mas a realidade é que você nunca sabe o que vai acontecer. Além disso, não há uma longa história no Brasil de documentários desse tipo. Então, estávamos fazendo algo muito novo e, quando você faz isso, é sempre um risco. Então eu estou muito feliz que muitas pessoas dizem que realmente gostaram da série. É uma grande satisfação.

Como você avalia o alcance em nível mundial?

Eu não tenho as informações sobre o número de países. Obviamente, o público-chave é brasileiro porque é uma história ambientada neste país e contada em português. Mas esperamos que algumas pessoas em outros países também assistam, pois acho que a história é, em muitos aspectos, muito universal.

Muitas pessoas tiveram a sensação de incerteza se Wallace Souza era culpado ou inocente pelos crimes que era acusado. A intenção era deixar essa dúvida?

É muito importante que as pessoas saibam que nossa intenção nunca foi criar um senso de equilíbrio a qualquer custo. Nossa intenção era contar a história e mostrar a verdade. Em outras palavras, se tivéssemos encontrado evidências que mostrassem 100% de que ele era culpado (ou inocente), teríamos mostrado isso. Se no final as pessoas se sentirem inseguras quanto à sua culpa, isso é, na minha opinião, um reflexo das evidências. Mas muitas pessoas me disseram que a série os convenceu de que ele era culpado, e muitas pessoas me disseram que a série os convenceu de que ele era inocente. É algo pessoal. Obviamente, simplesmente não é possível incluir todas as evidências que faziam parte do caso, porque estamos falando de várias investigações, vários processos judiciais que duraram anos, muitos acusados ​​e centenas de testemunhas. Decidimos incluir o que julgamos serem as provas mais importantes e as mais pertinentes a Wallace.

Você acredita que Wallace era um bandido ou herói?

Tenho minhas próprias teorias, mas são apenas opiniões válidas como as de qualquer outra pessoa. O que eu penso sobre o caso é que, depois de olhar para todas as evidências, há um espectro de possibilidades sobre o que realmente aconteceu, e esse espectro é muito amplo.

É verdade que você estaria pensando em uma segunda temporada? Existe alguma ideia de como esse assunto possa ser trabalhado?

Eu nunca digo nunca porque tudo é possível. Mas se avançássemos com outra série, isso exigiria tanto pensamento e consideração como esta. Nós só queremos produzir algo se pensamos que poderíamos manter o mesmo nível de qualidade.

Além do caso Wallace, o Amazonas infelizmente é conhecido por abrigar uma guerra entre facções criminosas. Também houve grande repercussão um esquema de pedofilia em Coari. Os dois assuntos são citados na série. Seriam motes interessantes para serem abordados em uma produção?

Ambos são definitivamente assuntos muito fascinantes e, claro, há mais histórias para contar. Mas eu não sou a pessoa que toma a decisão sobre o que a Netflix vai produzir. Eles são muito bons no que fazem e tenho certeza de o próximo documentário que eles produzirem será excelente.

Você se inspirou em outras produções para Bandidos na TV? 

Eu acho que grandes séries recentes de documentários foram definitivamente uma inspiração – Making a Murderer para mim foi estruturado de uma forma que foi muito viciante para assistir e Wild, Wild Country mostrou como uma história que é completamente louca pode ser muito legal. Mas acho que uma das primeiras inspirações foi Bus 174, o documentário de José Padliha, no qual ele se concentra em um evento muito dramático e cheio de suspense. Através desse evento, ele tenta reconstituir a história da vida de um homem e depois se torna em uma exploração ampla de toda a sociedade. É um dos meus documentários favoritos.

Para você, o que foi mais impactante no Caso Wallace? 

Para mim, é a história em total. Quando penso nos grandes momentos do caso, como o que acontece no final do primeiro episódio, ou o que acontece no final do segundo episódio, ou no dia da votação na Assembleia… É difícil acreditar que todas estas coisas realmente aconteceram, porque parecem tão surreais.

Fonte: https://www.acritica.com/

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