Estilista manauara radicada em Milão fala da sua trajetória e processo criativo

 

Daniela de Souza sonhava em ser advogada mas foi parar no mundo da moda e hoje comanda um ateliê na Europa

(Fotos: Divulgação/Arquivo Pessoal)

“Meu sonho era ser advogada, mas, felizmente ou infelizmente, essa não era a estrada que eu deveria trilhar”, afirma a estilista manauara Daniela de Souza, de 29 anos, que ainda na pré-adolescência teve seu primeiro contato com o mundo da moda ao ser recrutada por uma agência de modelos em sua escola, aos 12 anos, e hoje comanda um ateliê próprio em Milão, na Itália.

Coincidentemente, se um dia a história de Daniela fosse adaptada para uma cinebiografia, seria o caso de incluir na trilha sonora a música de abertura de outro filme que aborda o mesmo universo: “O Diabo Veste Prada” (2006). A música, no caso “Suddenly I see”, da cantora britânica KT Tunstall, que fala sobre uma mulher que de repente encontra a vocação de sua vida e se vê atravessando o mundo para seguir nessa nova direção, resume bem o que foi a trajetória de Daniela até agora.

Antes de se formar em uma das melhores universidades de moda do mundo, Daniela começou a produzir suas próprias roupas. As peças, bem desenhadas, cortadas e costuradas pela estilista brasileira, chamaram a atenção das amigas na Europa, e de amigas das amigas, de parentes de amigas das amigas, e assim por diante, que passaram a encomendar vestidos e demais peças.

“Em todos os eventos que eu ia, em especial os festivais de ópera, minhas peças eram muito apreciadas. Acabei formando minha cartela de clientes. Quando finalmente me formei, em 2015, percebei que minha clientela já era boa e grande o suficiente para eu abrir um negócio próprio. Foi aí que decidi abrir o ateliê”, afirma Daniela.

E se, hoje, quem vê o ateliê de Daniela, com 280m² e localizado no Centro de Milão, pensa logo em seu sucesso, não imagina que tudo começou em um pequeno quarto do seu apartamento. Para Daniela, as dificuldades iniciais, contudo, não são motivo de vergonha, mas sim de orgulho.

“Quando vim para a Europa, assim como qualquer outro estrangeiro, passei por muitas dificuldades e coisas desagradáveis. Não foi fácil, mas me fez chegar onde estou e ser quem eu sou hoje em dia”, comenta a estilista, ressaltando que as demais funcionárias do ateliê são todas mulheres sul-americanas – uma brasileira, uma peruana e uma equatoriana – também vitoriosas.

Personalização

Daniela conta também que por muitas vezes pensou em desistir, achando que a carreira não ia dar certo. Quando questionada o que a fez persistir, a manauara revela que a satisfação das clientes era seu principal combustível. Segundo ela, ao trabalhar com roupas sob medida e oferecer toda a assessoria necessária, ela acaba criando um vínculo com as clientes, que se tornam suas amigas.

“Meu trabalho é muito personalizado e combina vários fatores, como a forma de ser, o gosto pessoal, os desejos, os valores e a cultura de cada cliente. Respeitamos também o estilo de cada uma, seja ele clássico, moderno, criativo, romântico ou sexy. Tudo isso é levado em conta na hora de fazer uma roupa nova”, explica.

Com as clientes mais diversas que se poderia imaginar, indo de mulheres de 25 a 80 anos, com manequins do 36 ao 56, vindas de todas as partes do mundo (EUA, Rússia, Suíça, Itália, Alemanha, Áustria, só para citar alguns), o trabalho de Daniela, nas palavras dela é “tentar entender o que ela [a cliente] quer, o que ela não quer, o que lhe cai bem, o que ela quer mostrar e o quer esconder”.

“Como eu disse, meu trabalho não é só criar, mas também prestar uma assessoria. Uma das minhas clientes nesse tipo de serviço, por exemplo, é a filha do presidente do Cazaquistão. Ela nunca leva menos do que 30 peças quando ela vem aqui. Ela sempre encomenda um guarda-roupa completo, com looks para manhã, tarde e noite, para passar uma semana viajando”, revela.

Expansão do ateliê

Dona de um estilo próprio clássico e elegante, que ela define como “roupa de princesa”, e bebendo da influência de nomes como Dolce & Gabbana e Giorgio Armani, Daniela possui uma coleção de semi alta costura (semi couture), com cerca de 70 vestidos exclusivos, a qual ela exporta para lojas da Áustria, Viena e, mais recentemente, Rússia.

“Isso já faz parte do meu projeto de expansão. Meu plano é que o ateliê cresça ainda mais, mas que continue com o trabalho personalizado. Afinal, o que mais me motiva é isso, é ter contato pessoal com as clientes e ver a sua felicidade. Vale muito mais do que qualquer dinheiro pode pagar”, concluiu ela, que acredita estar realizando um sonho irreal. Ao mesmo tempo, Daniela mantém os pés no chão e sabe o longo caminho, e as concorrências, que terá pela frente.

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