Menino fica três dias em canoa no rio fugindo do pai agressor, no AM
O adolescente contou que era obrigado a trabalhar desde os 7 anos de idade e, mesmo acatando as ordens do pai, as agressões físicas eram constantes
Manacapuru – Por não aguentar mais passar por tanta exploração e violência vindas do próprio pai, um adolescente de 13 anos decidiu fugir da casa onde morava, em Codajás (município distante 240 quilômetros de Manaus) para o município de Manacapuru (distante 68 quilômetros em linha reta da capital). Ele passou pelo menos três dias em uma canoa no rio Solimões para chegar até à casa dos avós.
O adolescente relatou que apanhava constantemente do pai, e que o homem fazia questão de dizer que não tinha pena dele. “Eu tinha que trabalhar para comer, se eu me recusasse apanhava. O que me fez decidir fugir foi quando eu estava fazendo fogo para assar peixe e ele estava reclamando. Depois ele pegou um pedaço de madeira e bateu por três vezes nas minhas costas. Fiquei com raiva e peguei a canoa. Ao longo dos três dias de viagem não comi, nem dormi, mas não tive medo, apenas dos botos quando me acompanhavam. Quando estava próximo de Manacapuru, consegui uma carona que veio rebocando a minha canoa. Fiquei muito feliz ao chegar aqui”, contou o adolescente em entrevista a um programa de televisão.
O Conselho Tutelar de Manacapuru informou que a denúncia chegou por meio de telefonema, realizado pela própria mãe da criança, que reside em São Paulo. Na ocasião, ela falou que o menino estava sendo agredido pelo pai e que ela tomou conhecimento que o filho havia deixado Codajás em uma canoa e que não sabia se ele sabia nadar. As autoridades policiais de Manacapuru entraram em contato com a polícia e Conselho Tutelar de Codajás.
“A mãe voltou a ligar relatando que o filho tinha chegado em Manacapuru e foi quando nós fizemos o atendimento ao adolescente. Durante conversa com ele, percebemos que realmente se tratava de um adolescente mal tratado, com mãos e pés ásperos. Ele relatou que fazia todo o trabalho, que seria de responsabilidade do pai. Ele era muito agredido, com o que o pai tivesse pela frente. Durante os três dias, ele não se alimentou e na delegacia registramos o Boletim de Ocorrência de maus-tratos. O menino ainda não sabe ler, ele precisa de muita ajuda intelectual”, explicou a conselheira à imprensa.
O adolescente será acolhido por uma rede de proteção em Manacapuru, irá passar por acompanhamento psicossocial e um procedimento por maus-tratos deve ser instaurado em Codajás para investigar o pai.
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