Criança morre após inalação em UPA e prontuário é negado à família
Família disse que a pequena Alice pode ter sido medicada com superdosagem de berotec. No entanto, o médico suspeitou de meningite e Susam apura o caso
Manaus – Os familiares da pequena Maria Alice da Silva Vilagelim, de apenas 3 anos, querem explicações para o verdadeiro motivo do falecimento da menina, ocorrido dentro da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) José Rodrigues, no bairro Cidade Nova, Zona Norte de Manaus, na madrugada desta sexta-feira (15).
Alice deu entrada ainda na UPA onde à noite, com quadro de febre alta. A família diz que houve negligência médica, por superdosagem de medicação.
A mãe de Alice, Fernanda Nascimento, disse que, pela manhã, quando estava ainda na escola, a menina estava com calafrio e febre. Antes disso, a criança não apresentava histórico de outras doenças graves.
“Minha filha era uma menina saudável, tinha doenças normais de criança. Saiu de casa de manhã sorrindo e feliz para ir à escola”, lembrou a mãe emocionada.
A primeira entrada em unidade de saúde foi no Pronto-Socorro do Galileia, também na Zona Norte, por volta das 9h da manhã dessa quinta (14). Segundo Fernanda, a filha estava com 38 graus de febre e a médica que fez o atendimento a levou imediatamente para ser medicada com dipirona. No entanto, em seguida, mãe e filha foram liberadas. “Sempre levava ela no Galileia com febre e nunca fizeram um exame nela”, diz Fernanda.
Após serem liberadas, mãe e filha foram para casa, mas o quadro da menina só piorou. “Chegamos por volta das 18h, quando ela tomou banho. Depois desse banho, notei que minha filha ficou desorientada, tremendo e com os pés roxos”, relata a mãe. Logo após, a família foi até a UPA José Rodrigues, na Cidade Nova.
Já na unidade de saúde, a família conta que aplicaram soro na veia de Alice. No entanto, a mãe notou manchas roxas pelo corpo da menina e questionou a equipe médica. Segundo a mulher, nesse momento, o médico afirmou que as manchas já estavam no corpo da menina antes mesmo de ter chegado à UPA. Porém, Fernanda negou e lembra que afirmou para todos que as manchas teriam aparecido surgido naquela ocasião.
A menina foi, então, levada para o setor de inalação, onde foi medicada com berotec e atrovent. Depois de duas inalações, Fernanda detalha que as manchas subiram também para a região da cabeça de Alice. Vendo a transformação no corpo da filha, a mãe relata que acionou a equipe médica imediatamente.
Segundo Fernanda, tentaram coletar o sangue da paciente, mas não conseguiram. Em seguida, a equipe médica teria tentado novamente, só que dessa vez em uma das veias jugulares. Depois disso, Alice foi separada da mãe e levada para a sala de urgência. O fato, segundo Fernando, foi por volta de meia-noite.
“Quarenta minutos depois, o médico me disse que tinha conseguido coletar o sangue e que ela estava bem, fiquei até mais aliviada. Mas quando foi 1h da madrugada ele surge e me dá a notícia de que ela estava morta”, disse Fernanda.
Prontuário e laudo
Confirmada a morte de Alice, a família conta que luta para esclarecer o que realmente causou a morte da menina. “O médico me disse que foi princípio de meningite, mas no laudo consta síndrome febril. Então, tem alguma coisa errada aí. Tanto que a empresa funerária disse que o laudo está incompleto. Foi negligência, eu tenho certeza, eles mataram minha filha”, acusa Fernanda.
A família desconfia que uma suposta superdosagem de berotec tenha afetado o coração e causado a morte de Alice. “Ela faleceu roxa. Os médicos ainda tentaram tirar o sangue dela viva, não conseguiram porque o sangue coagulou. Teve a primeira inalação e uma hora depois a segunda, foi quando ela começou a ficar rocha”, disse o pai de Fernanda e avô de Alice, Paulo César.
“A gente queria saber qual foi a dosagem de berotec que deram para ela. Beretoc em grande quantidade faz mal até para um adulto, imagine para uma criança de três anos. Mas quando fomos pedir o prontuário médico, não tivemos acesso. Nem se quer para tirarmos uma foto e ter conhecimento de como a minha neta estava”, reclama Paulo César.
Alice foi velada nesta sexta-feira (15), mas o horário e local não foram divulgados pela família.
Susam
Por meio de nota, a direção da UPA José Rodrigues esclareceu que “a paciente deu entrada na unidade com febre de 39,1° e relatos de tosse e vômitos há um dia, negando alergia. No primeiro atendimento, o médico prescreveu remédio para febre e vômito, soro fisiológico e soro oral a cada 10 minutos”.
Ainda segundo a nota, “às 20h51 a paciente foi atendida novamente e a aferição da temperatura apontou 37,7° de febre. A médica do plantão prescreveu novos medicamentos e nebulização, conforme indicação para a idade. A paciente passou por uma terceira avaliação e foi prescrita uma nova dose de soro fisiológico”.
Conforme destacou a Susam em nota, durante o procedimento, “a paciente apresentou piora com manchas pelo corpo, rebaixamento do nível de consciência, dispneia evoluindo para uma parada cardiorrespiratória”.
De acordo com a pasta, entre as 23h55 e às 00h35, Alice teve três paradas cardiorrespiratórias. Todos os procedimentos para reanimação e ressuscitação foram feitos, mas o óbito foi confirmado às 00h54 desta sexta-feira (15).
“A direção lamenta a perda da família e informa que a vigilância e comissão de óbito da unidade estão investigando e colhendo dados sobre o caso, a fim de esclarecer a morte da criança”, conclui a nota.
Fonte: https://d.emtempo.com.br/