Vídeos de crianças apavoradas com brincadeira viralizam, e psicóloga faz alerta
“O que separa a diversão da maldade?”, questiona especialista, ao assistir a imagens de pais fingindo que crianças estão “invisíveis”, em pegadinha viral
Recentemente, uma brincadeira em que adultos fingem fazer uma “mágica” para os filhos desaparecerem com a ajuda de um cobertor está rolando na internet. Nos vídeos de crianças, os responsáveis pela pegadinha fingem que os menores ficaram invisíveis e passam a tratá-los como se fossem apenas “vultos”.
Para o truque dar certo e realmente convencer as crianças, os adultos tiram fotos com os pequenos, mas só mostram cliques registrados no lugar anteriormente, sem a presença deles. Nos vídeos de crianças , todos aparecem rindo enquanto os menores ficam completamente desesperados, tentando provar que estão vivos e presentes.
De acordo com a psicanalista infantil Lola Andrade, a brincadeira não é saudável e os pais deveriam pensar bem antes de colocar a ação em prática. “Esses vídeos me surpreendem. Isso não tem o caráter de uma brincadeira para criança”, diz ela. Para a especialista, o lúdico nem passa perto dessa pegadinha, que pode gerar traumas e transtornos no futuro.
“Por que uma família faz isso com uma criança? Será que é só para se divertir? O que separa a diversão de uma maldade? A gente questiona tanto a questão do bullying, de pessoas que torturam, e eu me pergunto se isso não tem a origem dessa maldade que também fica por trás do bullying”, dispara Lola.
Segundo a psicóloga, tudo seria diferente se os pais soubessem a hora de parar e fossem claros e abrissem o jogo com os filhos, dizendo o que realmente vai acontecer na hora da pegadinha. Essa, porém, não é a intenção do desafio que está circulando nas redes sociais.
“Quando você explica as regras, percebe se o sujeito tem condição de encarar a brincadeira ou não”, defende ela, que entende que embora o truque não seja aconselhável, pode ser que o resultado varie de acordo com a criança e seus familiares.
Brincadeiras como a exibida nos vídeos de crianças nem sempre são ruins
Quem lê as críticas aos vídeos que viralizaram na internet pode imaginar que brincar de esconde-esconde com crianças não é o ideal, mas a psicanalista explica que uma coisa não tem nada a ver com a outra. “Essa brincadeira que está rolando é diferente de fazer uma surpresa para um amigo, que você não conta e tem um desfecho legal, ou no máximo tem um susto e em seguida a surpresa é revelada”, garante.
A maioria dos bebês, inclusive, adora quando os pais brincam de esconder o rosto com um pano por alguns segundos. Esse tipo de atividade, segundo Lola, é ótima para o desenvolvimento infantil e vai totalmente na contramão dos vídeos que estão circulando com o falso desaparecimento de crianças.
“A brincadeira de ‘esconder’ é muito importante na formação do sujeito. Ela permite o bebê trabalhar a separação com a mãe. Ali, ele entende que ela pode sair, mas vai voltar. Isso, sim, é construtivo e saudável”, avalia a profissional, que entende como brincadeira só aquilo que traz boas sensações.
“Uma brincadeira tem que ser cuidadosa, não pode ultrapassar certos limites. O desespero das crianças chorando nos vídeos é significante e mostra que elas não foram preparadas para passarem por aquilo. Essa pegadinha é de um sadismo que pode ser desproporcional se não tiver um jeito perfeito de reparar”, afirma a especialista.
Aos pais que já fizeram brincadeiras como as que aparecem nos vídeos de crianças mais recentes e perceberam que os filhos não digeriram bem a situação, Lola recomenda uma conversa franca, um pedido de desculpas ou até mesmo a visita a um psicólogo. Uma forma de descobrir se a criança não lidou bem com o ocorrido, segundo ela, é perguntar se o filho gostaria de brincar novamente. Pela resposta, os pais vão notar se pegaram pesado.
Fonte: Delas – iG @ https://delas.ig.com.br/filhos/2018-09-23/videos-de-criancas-brincadeiras.html