Já pensou ficar sem jaraqui? Pesca pode ser proibida no Amazonas

Já pensou ficar sem jaraqui? Pesca pode ser proibida no Amazonas

Além do jaraqui, a pesca de outras espécies como pirarucu, tambaqui, entre outras, também podem ser proibidas no Amazonas

 
 
A pesca e venda de jaraqui corre risco de ser proibida | Foto: Arquivo Em Tempo

Manaus – Para a tristeza dos amazonenses e de muitos peixeiros, a pesca do jaraqui, uma das espécies de peixes mais populares do Amazonas, pode ser proibida nos próximos anos. Este e outros temas relacionados ao cultivo e manejo dessa e de outras espécies são discutidos durante o encontro entre pescadores, cientistas e representantes do ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MPA), que iniciou nesta quarta-feira (5) e vai até sexta (8), em Manaus.

O encontro também discute o risco de extinção de outros peixes amazônicos como pirarucu, tambaqui e aruanã, a criação de uma nova lista de cardumes para o defeso, além de ações de manejo em rios e lagos no Amazonas.

Segundo o presidente da Federação dos Pescadores do Estado do Amazonas (Fepesca), Walzenir Falcão, o encontro é o primeiro que reúne pescadores, cientistas e representantes do poder público para discutir temas que beneficiarão todos os três setores.

Pesquisador Carlos Freitas
Pesquisador Carlos Freitas | Foto: Marcely Gomes
 

“Estamos buscando conhecimento técnico. Não deve ser encaminhado um ato normativo sem ouvir a classe trabalhadora, a produtora e classe científica. Como vamos gerar postos de trabalho e renda se não tem mais peixes. Por isso precisamos saber quais são as espécies que aumentaram e quais diminuíram”, afirmou o presidente Walzenir.

O encontro tem como objetivo a troca de informações sobre a pesca no Amazonas, que segundo os pescadores, já enfrenta redução de cardumes de várias espécies em localidades com grande atividade pesqueira.

É o caso do tambaqui, cuja espécie dificilmente é encontrada nos rios da região. Quase 100% do tambaqui consumido em Manaus vem de outros Estados ou de tanques de piscicultura.

Problema semelhante acontece com o jaraqui. Segundo cientistas, ligados ao setor pesqueiro, a espécie está cada vez menor, resultado da pesca em grande quantidade, que obriga os peixes a se reproduzirem cada vez mais cedo.

Esse é o primeiro encontro de pesquisadores, pescadores e representantes do órgão público
Esse é o primeiro encontro de pesquisadores, pescadores e representantes do órgão público | Foto: Marcely Gomes

“Estamos percebendo mudanças na coleta de vários peixes. Como, por exemplo, o jaraqui que diminuiu de tamanho. Devido à grande demanda, essa espécie está se reproduzindo muito cedo. Por isso precisamos de informações de cunho científico”, relatou Walzenir.

Possível proibição de pesca

Questionado sobre a possível extinção de espécies de peixes como tambaqui, pirarucu e jaraqui, o professor Carlos Freitas, pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), disse que ainda é cedo para afirmar, mas que até nessa sexta-feira (7), quando se encerrará o encontro, eles terão algo mais preciso sobre o assunto.

Entretanto, o pesquisador afirma da possibilidade da proibição de venda por conta de duas variáveis que causam a redução da quantidade de peixes: a coleta de espécies jovens, impedindo de chegar à vida adulta e reprodução; e o complexo de usinas hidrelétricas do Rio Madeira, que ameaça o estoque natural que vem por meio de migração.

“O tambaqui e o pirarucu estão em estado de sobrepesca. Não falamos de extinção biológica, mas nos preocupamos sobre a inviabilidade da pesca, pois ela prejudica a população, o pescado e a geração de renda. O jaraqui, curimatã, estão ameaçados em situação crítica. Apesar de serem espécies com o ciclo de vida curto, tem sido feito trabalhos para tentar suportar a exploração pesqueira intensa”, afirmou Carlos.

Presidente da Federação dos Pescadores do Estado do Amazonas (Fepesca)
Presidente da Federação dos Pescadores do Estado do Amazonas (Fepesca) | Foto: Marcely Gomes

Espécies contaminadas

Em outubro do ano passado, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Pará (UFPA) detectou a presença de microplástico em peixes da região, alguns bastante consumidos pela população.

A pesquisadora Tamyris Pegado Silva trabalhou na dissertação “Primeira evidência de ingestão de microplásticos por peixes do estuário do rio Amazonas”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Conservação, com orientação do professor Tommaso Giarrizzo.

Foram encontradas 228 partículas de microplástico em 26 dos 189 peixes analisados. As 46 espécies analisadas foram capturadas no estuário do rio Amazonas (Costa Norte do Brasil). Algumas, inclusive, com importância econômica e de consumo humano, como Caranx hippos (Xaréu), Lutjanus synagris (Ariacó), Cynoscion microlepdotus (Corvina) e Macrodon ancylodon (Pescada gó).

Foram encontradas quatro categorias de microplástico, entre 0.38 mm e 4.16 mm: pellet amarelado (esferas cilíndricas ou discoidais consideradas matéria-prima para a produção de diversos tipos de materiais plásticos).

A pesquisa mostra que a poluição por plástico já chegou ao rio Amazonas, ambiente particular por apresentar ecossistemas como mangues, ilhas, planícies de marés, além de ser uma zona altamente produtiva que sustenta pescarias artesanais e industriais.

Questionada sobre o risco de consumir peixes contaminados por microplástico, a pesquisadora observa que, apesar das incertezas científicas “nosso corpo pode responder aos poluentes presentes na superfície desse material, causando problemas de saúde”. A pesquisadora alerta que a sociedade precisa iniciar um uso consciente dos materiais plásticos, evitando, assim, catástrofes futuras.

A reportagem entrou em contato com Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) para saber se o órgão possui algum estudo relacionado a contaminação de peixes com plásticos, mas até a publicação desta matéria o instituto não respondeu.

Fonte: https://d.emtempo.com.br/

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