“Pareciam espinhos me furando por dentro”, afirma mulher atacada por candiru no Amazonas

 

Agente Social fala do desespero de ser ataca pelo animal e da dor indescritível

 
Foto: arquivo pessoal Designer: Ítalo Christian

Manaus (AM) – “Era uma dor que eu não podia descrever! Fui fazer xixi na beira do rio, esqueci que estava menstruada e senti essa coisa. Pareciam espinhos me furando por dentro. Eu urrava dentro d’água, meu irmão, de tanto desespero. Gritei por socorro e tive de ser carregada nos braços, colocada num carro e levada para um atendimento médico”. O relato é da agente social Telma Lopes, de 46 anos.

A espécie endêmica da Amazônia tem outras variações. Foto: Reprodução

Telma conta que morava no município de Urucurituba (distante 208 quilômetros de Manaus), em 2009, quando resolveu, um belo dia, lavar roupas à beira do rio, só de maiô.

“Era uma excelente manhã ensolarada. Pensei: vou já pegar esse ‘montueiro’ de roupas sujas e calcinhas e deixar tudo limpo. Entrei no rio escuro da cintura para baixo e me deu uma vontade imensa de verter água [urinar]. Estava com um ‘maiôzinho’ bem fino. Sempre fui para frente! Foi quando senti as furadas. Gritei: Me salva, seu chico, tão me ‘comendo’ viva”, relata, ao chamar pelo vizinho.

Na unidade hospitalar, Telma diz que foi submetida há exames. Para surpresa da agente social, tratava-se do famoso ‘vampiro’ das águas, o candiru (peixe amazônico que é atraído pela urina e se aloja na região íntima).

“Fiquei horrorizada. Aquele bicho dentro de mim, se mexendo e me furando. Fui operada e demorei mais de três meses para ficar completamente recuperada, tomando anti-inflamatórios e deitada o tempo todo. Nunca mais quero sentir aquilo. Parecia um alienígena me devorando por dentro”, lembra.

Após o ataque e de ter se recuperado, a mulher conta que ainda precisou de muletas para se apoiar, posteriormente. “Vai levar uma ‘bordoada’ íntima de um bicho desses e ainda ser operada, para ver se você não vai precisar. [de muleta]. Andava e cambaleava. Nunca mais entro num rio menstruada, ainda mais para ‘verter água’”, contou.

Perigo

Foto: Reprodução

O relato de Telma Lopes trás à tona os perigos de entrar nas águas escuras sem a devida proteção. O candiru é um minúsculo peixe da família Trichomycteridae, com várias espécies. Porém, uma característica específica é que possui espinhos na cabeça e pode chegar a medir 30 centímetros.

De acordo com o biólogo José Felipe Pinheiro, presidente do Conselho Regional de Biologia da 6ª Região, o animal pertence ao grupo de pequenos bagres e tem 280 espécies, com cerca de 40 gêneros.

“Algumas espécies são hematófagas, alimentam-se de sangue, as mais comuns na região são os do gênero Vandellia. Há espécies de candiru carnívoros, alimentam-se de pequenos invertebrados aquáticos”, explica.

Por isso mesmo, o perigo. Ainda de acordo com José Pinheiro, o peixe pode “penetrar em orifícios do corpo humano, como a uretra, o ânus e a vagina e algumas espécies de candiru são necrófago (comem cadáveres) e hematófago (vampiros) como o candiru-açu, com olhos diminutos e corpo volumoso e acinzentado, e os pequenos candirus de poucos centímetros de comprimento”, relata.

Dentro do corpo

Ao penetrar no corpo humano por algum destes orifícios, é lá que ele ‘mostra’ do que é capaz.

“Ao penetrar no hospedeiro, ele fixa seu corpo através de espinhos que tem em volta da cabeça e também utiliza suas nadadeiras, dificultando a retirada causando uma intensidade de dor maior”, afirma.

Cuidados

Ao perceber estes cuidados, é importante que pessoas que costumam frequentar e se de banharem em rios tomem os seguintes cuidados:

  1. Para as mulheres, evitar entrar em águas escuras menstruadas;
  2. Não utilizar roupas de banho que facilitem ao animal acesso a certos orifícios;
  3. Não tomar banho sem roupas nestes lugares;
  4. Não urinar na água;
  5. Não entrar na água com ferimentos expostos ou recentes.

Curiosidades

Por ser um peixe exclusivo da região amazônica, um caso curioso ocorreu no município de Itacoatiara (distante 273 quilômetros de Manaus – Amazonas) quando, em 1977, um destes animais ‘pulou’ da água para dentro da uretra de um banhista.

Era um rapaz de apenas 23 anos de idade, na ocasião, que costumava nadar em um rio da localidade, sendo necessária uma operação para retirada do peixe, depois de, claro, sentir muita dor.

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